Considerações sobre a armazenagem agrícola no Brasil em 2021/2022 - Parte 1

Este artigo tem a intenção de apresentar um resumo dos dados publicados no estudo “Diagnóstico da armazenagem agrícola no Brasil”, produzido pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-LOG) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O estudo foi publicado em 2023 utilizando dados coletados, principalmente, entre os anos de 2020 e 2022.
A pesquisa ouviu 1.065 produtores rurais, de todas as regiões do país, o que permitiu traçar o perfil da armazenagem no campo, o perfil de quem utiliza esse tipo de infraestrutura na fazenda, fora da fazenda, em silo bag, e recomendações desses usuários para incentivar e expandir o uso da armazenagem. Os questionários foram respondidos no final de 2022.
A CNA detalha os principais resultados do estudo:
- A maior parte dos produtores ouvidos diz que investiria em armazenagem se tivesse taxa de juros atrativa. 72,7% demonstrou interesse em investir na armazenagem por meio de um crédito com taxa de juros atrativas.
- A maior parte dos produtores rurais quer expandir a capacidade estática de armazenagem. 54,0% dos produtores disseram ter interesse para comportar o aumento da produção própria, 15,9% para atender terceiros e produção própria e 30,1% não tem interesse.
- As regiões com maior interesse em expandir a capacidade estática de armazenagem são o Norte (82,7%), Centro-oeste (78,4%) e Matopiba (73,3%)
- A armazenagem traz ganhos econômicos ao produtor rural. Quando questionados sobre o ganho econômico médio com o uso do armazém, nas últimas três safras, comparado ao preço médio na época de colheita, 40,8% teve ganhos entre 6% e 20%.
- Os volumes da safra de soja e da segunda safra de milho tendem a ter um benefício econômico em uma janela de comercialização tardia, consequência da dinâmica dos reajustes de preços
- A unidade armazenadora possibilita uma redução nos gastos com frete, já que no pico do escoamento da safra brasileira de grãos, o valor do frete aumenta, diante da alta demanda.
A importância da armazenagem de grãos para a agricultura brasileira
De uma maneira geral, os principais benefícios da armazenagem para a agricultura brasileira como um todo são apresentados na Figura abaixo.

As vantagens para o produtor rural
- Melhor qualidade do grão, evitando deixá-lo exposto a céu aberto
- Maior agilidade na colheita, pois elimina o tempo perdido nas filas das unidades armazenadoras coletoras ou intermediárias
- Melhor padronização da colheita no que diz respeito a umidade, grãos avariados e impurezas, melhorando a qualidade da classificação do produto entregue
- Possibilidade de comercialização da produção em períodos de melhores preços, evitando as pressões naturais do mercado na época da colheita
- Economia com custos de transporte, uma vez que os fretes alcançam preços máximos nos meses de safra
A unidade armazenador, para o produtor, corresponde à extensão do processo produtivo, em que se torna estrutura importante para garantir a continuidade da produtividade e qualidade alcançadas no campo, além de auxiliar na gestão de sua comercialização.
O produtor tem, em geral, 4 opções para armazenar sua colheita:
- Armazenagem em unidades próprias
- Armazenagem em unidades de terceiros
- Armazenagem em unidades de cooperativas
- Armazenagem em condomínios de armazéns*
"Condomínios de armazéns rurais são um tipo de organização associativista, empreendedora e relativamente nova, em que é viabilizada uma estrutura completa de armazenagem pela divisão de cotas de armazenamento entre produtores rurais vizinhos sócios." (FILIPPI; GUARNIERI, 2019, p. 274)
As vantagens para a indústria
- Garantir o suprimento de matéria-prima de forma mais homogênea ao longo do ano, diminuindo os impactos da volatilidade de suprimentos, principalmente durante as entressafras
As vantagens para os terminais e portos
- Equilibrar os fluxos de entrada e saída da carga durante as operações intermodais, garantindo a disponibilidade do produto e a integração entre os meios de transporte.
Devido à grande diferença de capacidade entre os diversos meios de transporte, as unidades armazenadoras de transbordo e portuárias atuam a fim de garantir a quantidade de produto necessária para a continuidade e competitividade das operações logísticas.
A imagem abaixo ilustra a diferença de capacidade entre os 3 principais modais.

O perfil das infraestruturas de armazenagem no Brasil
A estocagem de grãos se dá de 2 formas: em sacarias, ou à granel. Segundo dados do estudo, a estocagem em sacarias corresponde a 10% da capacidade estática existente no Brasil, sendo o restante correspondente à estocagem de grãos à granel.
Os tipos de armazéns para estocagem de grãos são mostrados na figura abaixo. Importante notar que, independentemente da estrutura de armazenagem, os equipamentos e processos das etapas de recebimento, expedição, separação de impurezas, transporte e secagem são indispensáveis.

Segundo o IBGE, com dados do Censo Agropecuário realizado em 2017, o Brasil possui 268 mil estabelecimentos agropecuários com unidades armazenadoras, dos quais 78,7% são armazéns convencionais/estruturais, 20,8% são do tipo silo, 2,5% são do tipo graneleiro e granelizado e apenas 0,4% são infláveis. Por outro lado, em termos de capacidade instalada, verifica-se uma concentração maior de quase 60,0% de armazéns do tipo silo nas propriedades, em contraste com os armazéns convencionais, que correspondem a aproximadamente 23,0%, com os armazéns graneleiros/granelizados, que correspondem a 16,3%, e com os armazéns infláveis, que correspondem a 0,9% da capacidade total instalada de armazenagem.
Ao analisar a armazenagem no Brasil, nota-se que a capacidade estática de armazenagem vem aumentando ao longo dos anos. No entanto, ela não tem conseguido acompanhar a taxa de crescimento da produção agrícolas, de modo que os gargalos resultantes do déficit de armazenagem no país têm se tornado crescentes a cada nova safra recorde.

*No escopo deste estudo, armazéns convencionais são os que armazenam produtos embalados / ensacados.
Pelo gráfico acima, pode-se notar que a taxa de crescimento da capacidade estática vem diminuindo no Brasil. Entre 2010 e 2016, a taxa de crescimento médio anual foi de 3,7%, enquanto que de 2017 a 2021, esta taxa foi de 1,2%. No ano de 2021 o crescimento foi de 0,7% ao ano.
Apesar do crescimento de 43 milhões de toneladas em capacidade estática no Brasil, o déficit de armazenagem no país torna-se mais crítico a cada ano. Isto é devido ao aumento da produção, que superou muito o aumento da capacidade estática neste período. Entre 2010 e 2020, o Brasil aumentou sua produção de grãos em 81%, chegando a aproximadamente 226 milhões de toneladas de soja e milho em 2020.

O gráfico acima ilustra a relação entre a capacidade estática e a produção de grãos no país. Nota-se que, em 2021, o Brasil teria capacidade de armazenar, no máximo, 79,7% de sua produção, o que representa mais de 45 milhões de toneladas de grãos sem espaço para serem armazenadas.
Se considerarmos não apenas a capacidade estática, mas todo o processo de beneficiamento necessário para o correto armazenamento, nossa situação fica ainda mais crítica. O estudo mostra que menos de 30% da capacidade estática possui infraestrutura para secagem dos grãos. Nota-se, também, que mais de 20% da capacidade estática no país não conta com sistemas de aeração e termometria. Assim, conclui-se que a capacidade de armazenagem de grãos com qualidade no Brasil é consideravelmente inferior aos 79,7% da produção total.

De acordo com a CONAB, a infraestrutura de armazenagem no Brasil pode ser segregada 4 classificações diferentes, conforme sua localização e finalidade:
- Nível fazenda, dimensionada para atender ao próprio produtor rural
- Coletora, para prestação de serviço aos produtores
- Intermediária, para concentração de grandes estoque em locais estratégicos
- Terminal, para alta rotatividade, perto de portos ou grandes centros consumidores
A infraestrutura de armazenagem a nível de fazenda
O armazém em nível de fazenda é a unidade localizada na propriedade rural, com capacidade estática e estrutura dimensionada para atender ao próprio produtor.
Apesar da capacidade de armazenagem estática de grãos no Brasil ser estimada em 178 milhões de toneladas, a capacidade a nível de fazenda é imensamente menor, totalizando, aproximadamente, 26,5 milhões de toneladas. Considerando a produção de grãos brasileira em torno de 225,6 milhões de toneladas por ano, menos de 12% da produção anual do país está disponível para ser armazenada a nível fazenda.

Em termos de comparação, nos Estados Unidos a capacidade estática total de armazenagem é em torno de 113% da produção, e a capacidade estática a nível de fazenda é de aproximadamente 60% da produção anual americana. [Os dados sobre os EUA foram obtidos na farmdocdaily, Illinois e world-grain.com].


De acordo com as informações do estudo da ESALQ-LOG e CNA, a comparação entre as capacidades estáticas no Brasil e EUA, a nível fazenda e fora da fazenda, encontra-se na figura abaixo.

Cabe mencionar que o fato de o Brasil ter mais de uma safra por ano representa uma particularidade que o difere da realidade de outros países produtores, como os EUA, por exemplo. De fato, mais importante do que a própria capacidade estática, total ou relativa, em uma região é que ela suporte o fluxo de produtos durante o período de colheita até o final da comercialização. Para uma determinada quantidade produzida, quanto mais concentrado esse fluxo em determinado período do ano, maior deve ser a capacidade do local para receber a produção. Por outro lado, quanto mais distribuído esse fluxo ao longo do ano, menor a necessidade de capacidade de armazenagem. O fato de haver mais de uma safra auxilia nesse aspecto.
Perfil da armazenagem por região brasileira
Exceto São Paulo e Rio Grande do Sul, todos os estados brasileiros possuem déficit de armazenagem. Mato Grosso, por exemplo, tem uma produção de 68,7 milhões de toneladas, porém sua capacidade estática é de apenas 39,2 milhões de toneladas. Outro ponto de destaque é a região do Matopiba (que compreende os estados do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia), que soma apenas 7,8% da capacidade estática de armazenagem brasileira, o equivalente a 13,3 milhões de toneladas.

Os maiores déficits absolutos estão nas microrregiões de Alto Teles Pires (MT), Dourados (MS), Sudoeste de Goiás (GO), Arinos (MT), Parecis (MT), Canarana (MT), Sinop (MT), Norte Araguaia (MT) e Entorno de Brasília (GO), todas no Centro-Oeste. No Maranhão, as regiões de Gerais de Balsas (MA), Chapadas das Mangabeiras (MA) e Imperatriz (MA) são as microrregiões com os maiores déficits de armazenagem. No Tocantins, os maiores déficits estão nas microrregiões de Jalapão (TO), Miracema do Tocantins (TO) e Porto Nacional (TO). No Piauí, o déficit se evidencia no Alto Parnaíba Piauiense (PI), no Alto Médio Gurguéia (PI) e nas Chapadas do Extremo Sul Piauiense (PI). Na Bahia, os maiores déficits estão em Barreiras (BA), Santa Maria da Vitória (BA) e Ribeira do Pombal (BA). Goioerê (PR), Toledo (PR) e Cornélio Procópio (PR) compõem as regiões paranaenses com as maiores diferenças entre a produção e a capacidade de armazenagem.

Nos últimos anos, o déficit de armazenagem brasileira vem crescendo rapidamente. O aumento da produção de grãos caminha a passos largos, enquanto que o crescimento da capacidade estática não acompanha. Uma comparação entre o crescimento da produção e da capacidade estática de armazenagem nos estados da Região Centro-Oeste e Região Sul e de Matopiba, entre os anos de 2015 e 2020, está ilustrado no gráfico abaixo.

Em valores absolutos, o Mato Grosso tem um aumento médio no déficit de armazenagem de 3,3 milhões de toneladas por ano. Dentre os demais estados, o aumento anual no déficit de armazenagem é de 1,1 milhão de toneladas em Goiás, 703 mil toneladas no Mato Grosso do Sul, 294 mil toneladas no Maranhão, 163 mil toneladas no Tocantins, 276 mil toneladas no Piauí, 220 mil toneladas na Bahia e 331 mil toneladas no Paraná. Para essas localidades, tais informações reforçam o entendimento de que o déficit de armazenagem de grãos tem aumentado nos últimos anos.
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